Veja neste artigo como é construída cada etapa de um treino intensivo com cachorros e o que é primordial para o sucesso do trabalho com as famílias.
Treinar cães exige disposição e bastante consistência da parte dos humanos. Muitas pessoas não se sentem preparadas para isso e não dispõe de tempo o suficiente para trabalhar o comportamento dos seus cães, principalmente quando se trata de casos mais difíceis que já se tornaram prejudiciais ao extremo.
O treino intensivo é uma modalidade de trabalho comportamental com cães com o intuito de construir e/ou reformular comportamentos que já estejam enraizados e precisam ser revistos ou comportamentos necessários que ainda não tenham sido construídos, como no caso de filhotes por exemplo, e, portanto, exigem um treino mais massivo. O treino intensivo pode ter duração de vinte, trinta ou mais dias de hospedagem dependendo do caso.
Alguns exemplos de casos que se beneficiam deste trabalho são: a construção de comportamento para filhotes( xixi no lugar certo, caixa de transporte, iniciação no uso da guia, exercício do place e caminhada), modelagem comportamental para cães que acabaram de ser adotados e a família tem dificuldade de começar a vida com esse cachorro da forma correta independentemente da idade do cao, reformulação de comportamento e construção de rotina equilibrada para cães muito agitados, ansiosos, inseguros e/ou medrosos e até mesmo casos mais graves como cães que já morderam pessoas ou outros animais. Ainda podemos mencionar casos de latidos excessivos, cães que não conseguem ficar sozinhos em casa de forma tranquila e muitos outros. A lista é infinita.
A grande vantagem do treino intensivo é a realização do processo a partir do convívio 24 horas com o cachorro dentro de uma rotina doméstica e urbana bem direcionada que se transferirá para a o cotidiano da casa em que o cão viverá. A ideia é realmente “zerar” e começar de novo com este cão.
A chave para um treino intensivo de sucesso é o envolvimento da família, pois tudo o que for construído durante o treino terá que ser praticado para a vida toda. Este processo muitas vezes envolve reformular a forma como o tutor enxerga o seu próprio cachorro e como ele irá micro gerenciar a rotina do treino em diante. Esse compromisso é o que fará toda a diferença.
Três etapas são importantes para um treino bem sucedido.
1) Conhecer a família, o cachorro e a rotina ideal.
Alinhar expectativas e realidades é o primeiro passo. Antes de iniciar qualquer trabalho é extremamente importante realizar uma consulta comportamental. Assim é possível saber em detalhes quem é essa família, a rotina da casa e o espaço em que o cão ocupa em tudo isso. A consulta tem por objetivo entender os principais pontos de dificuldade na resolução dos problemas, identificar as características desse cachorro, deixar claro o que os tutores têm em mãos e o que isso significa em termos de gerenciamento no pós treino.
Falando em expectativas X realidade, é importante dizer que o treino intensivo não tem o objetivo de transformar , por exemplo, um cão extremamente medroso em um cão extremamente confiante, porque talvez isso não seja real em um mês, em dois anos ou para o resto da vida, mas é possível sim transformar este cão na melhor versão dele mesmo e dar as ferramentas certas e o treinamento exato para que a família saiba lidar com este perfil de forma a não regredir o medo. Antes de dar o próximo passa, é primordial a família entender que o treino intensivo não é a terceirização completa do papel deles na vida do cachorro.
2) Entender exatamente o que precisa ser construído com o cachorro de acordo com a realidade.
Cada cachorro e tutor é um Universo. Precisamos partir do ponto de que tudo o que for construído deve ser aplicável e transferível para a família. De nada adianta construir comandos e atividades que não serão úteis na realidade dessa família. Por exemplo: Um cachorro que precisa aprender a ficar sozinho em casa por um tempo maior nos exige um trabalho mais focado de duração na caixa de transporte. Para esse cachorro não seria prioridade a socialização e interação com outros cães. Ou então, um cachorro que reage ao receber visita e ao toque da campainha, precisamos de muito mais treino passivo diante desses estímulos reais do que um dia repleto de atividade física.
Podemos dizer que a base de treino é igual para todos os cães, porque em todo ambiente doméstico será necessário construir comandos básicos, como o sentar, deitar e o recall(quando chamamos o cachorro de volta para nós). Tolerância também é inerente a vida de qualquer cão de família, por isso o exercício do place entra na maioria dos casos. A caminhada estruturada é uma atividade que fará parte do treino de todos os cães, porque independente do problema comportamental apresentado, todos precisam aprender a caminhar de maneira estruturada, assim como todas as famílias precisam aprender fazer uma condução adequada do cachorro. Então, o que muda?
A partir dessa base construída, vamos utilizar os comandos básicos, o exercício do place e a caminhada estruturada para modelar todo e qualquer comportamento necessário na vida de cada um.
Para entender melhor, abaixo temos três cães diferentes que já passaram por treino intensivo no Bangalô Dog Hostel. Todos praticaram o exercício do place com objetivos diferentes. O Bibelô é um cão jovem que precisou aprender a tolerar e a viver em um estado mental mais calmo, pois a sua tutora é idosa e a vida dele será muito mais passiva do que ativa. A Cookie estava acostumada a “reinar” em casa por 3 anos, mas a família adquiriu um outro cão, ou seja, na rotina da Cookie e não será mais possível ter liberdade de circulação em casa, e o place entrou para ajuda-los a gerenciar o espaço dos dois cães de forma respeitosa e ordenada. O Maui é um cão que já experimentou reagir e morder com o intuito de gerenciar a própria rotina. Para que a tutora pudesse aplicar as novas regras e se tornar relevante para ele, o place entrou, entre outros motivos, como controle perante a liberdade de decisões dele.
Vejam como um único exercício entra de forma diferente na vida de cada pessoa e cachorro. Por isso, é primordial saber o que esses cães farão e qual a vida que levarão no retorno para casa e aí sim, traçar a prioridade de treino.
Nos vídeos abaixo, vocês poderão ver momentos do treino intensivo desses três cães mencionados acima:
3) o Retorno para família.
Essa talvez seja a parte mais importante de todo o processo. Desde o dia 01 que o cachorro retorna, os tutores devem aplicar 100% da rotina construída no treino. Partimos do princípio de que o cachorro aprendeu uma nova forma de viver e é imprescindível que a família esteja pronta para transferir essa rotina para casa. Isso inclui adquirir as ferramentas necessárias (caixa de transporte, e-collar, prong collar, guia unificada ou o que for sugerido), direcionar, supervisionar e corrigir sempre que necessário. O cachorro não volta do treino preparado para estar com liberdade e tomar boas decisões e sim preparado para seguir um novo modelo de vida que requer nova postura de quem irá gerenciar. O comprometimento dos tutores no retorno é o que fará com que isso seja possível.
No vídeo abaixo é possível ver uma sessão de entrega de um cachorro que passou por treino no Bangalô Dog Hostel e as respostas novas que ele apresenta a partir de uma nova postura dos tutores.
Podemos fazer uma alusão do processo do treino intensivo com um jogo de videogame no qual nós treinadores passamos da fase mais difícil, mas não ganhamos o jogo para o tutor. Trabalhamos nas maiores dificuldades, na construção mais massiva, na parte mais grossa do trabalho e a partir do momento que o cachorro aprende essa nova maneira de viver, os tutores trabalharão na execução de uma boa rotina e manutenção. É quando as coisas começam a se encaixar, simplesmente porque cada elemento dessa equação(tutor e cachorro) têm propriedade para executar o seu papel.
No nosso canal do Youtube é possível acessar a playlist Treino Intensivo para ver o processo de alguns cães que já passaram por aqui.
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